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O tempo dos educadores

26/11/2020

Antonio Nóvoa é reitor honorário da Universidade de Lisboa e embaixador de Portugal na Unesco, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Temos abaixo um resumo de depoimento recente dele dirigido aos educadores brasileiros.

Estamos vivendo tempos duros, que vamos superar em conjunto.  Tenhamos confiança no conhecimento e na ciência. Na ciência aberta, partilhada entre todas as comunidades científicas do mundo. Na educação, temos que agir na urgência e, ao mesmo tempo, pensar no futuro. Para os professores, este tem sido um tempo difícil, mas também de grande criatividade, engajamento, encontro de soluções que permitam manter a aprendizagem das nossas crianças.

Na Unesco, onde trabalho, foi lançada uma aliança para a educação global que tem como lema “Learning never stops” (“A aprendizagem nunca para”), e que se destina a fornecer informações, conselhos e recursos materiais sobretudo para as crianças dos países que passam por mais dificuldades, que têm as populações mais frágeis e mais vulneráveis. Foi sempre assim ao longo da História. São as pessoas mais frágeis que vão sofrer as maiores consequências dessa crise dramática. Temos a responsabilidade, como educadores, de não permitir que haja retrocesso na educação dessas crianças. Esta é uma responsabilidade comum da humanidade inteira.

Agir na urgência e pensar no futuro. Temos que usar esse tempo para pensar no futuro pós-coronavírus. Todos sabíamos há muitos anos que esse modelo de escola estava esgotado. Sabíamos que estava em curso uma metamorfose da escola, de seu tempo, de seus espaços, da relação entre ensino e aprendizagem. É uma metamorfose necessária para o século XXI. Esta crise mostrou que essa transformação da escola não é apenas necessária. Ela é urgente, inadiável, imprescindível.

Temos que mobilizar nossa energia, nossos recursos, nossa capacidade profissional, nossa imaginação, nosso saber pedagógico, as nossas intuições como professores para sabermos como serão os métodos, a organização das escolas. Temos que ter a consciência de que a  educação é um bem comum, construído em um espaço público. É um bem comum global, e isso é central para pensarmos a metamorfose da escola e a maneira como ela vai se transformar para o bem da humanidade. Este é um momento dramático, mas é também um momento de aberturas, um momento de ter coragem de fazer o que sabemos há tanto tempo que é necessário fazer. Este é o tempo dos educadores.


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