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Segue o jogo, segue a vida

25/06/2020

A professora Elaine Caetano trabalha no Pró-Saber desde 2007. Nesta entrevista, ela faz um balanço do primeiro período de aulas à distância da turma 2018 do Curso Normal Superior, na disciplina “Psicologia e Comunicação I”. Usando o futebol como metáfora, ela destaca como foi importante conseguir botar a bola no chão e ter uma visão geral dos jogadores para poder planejar as aulas. Elaine também é professora nas disciplinas “Ciências da Natureza e seus Marcos” e “Psicologia e Comunicação II”. 

P: Como você se sentiu quando soube que as aulas do Curso Normal Superior seriam retomadas via WhatsApp?

R: Medo é pouco para descrever. Fiquei apavorada. Mas, como de costume, tentei não transparecer. Uma coisa que eu venho aprendendo é que se a bola está vindo para mim (e ela vem sempre de um jeito louco, difícil de dominar, sabe?) o que eu preciso fazer, sem nem saber muito bem como, é dar um jeito de colocar ela no chão. Tem que matar no peito, na barriga, no joelho, no ombro. Vale até usar a cara, mas tem que botar no chão, dar uma parada para olhar o campo, ver a posição de todos os jogadores, os do meu time e do time adversário, tudo numa fração de segundos. E aí tentar a melhor opção de jogada. Sempre a melhor. Se vai dar certo, se vou conseguir, realmente não sei. Mas tenho a certeza de que sempre tento fazer o melhor e, que caso não consiga me sair tão bem assim, o jogo continua e eu vou seguir com uma nova jogada, já dentro de um novo cenário no campo. E assim segue o jogo, segue a vida. Com a vantagem de ter um time forte, corajoso, amoroso e desejoso que está em campo comigo. Então o medo vem, ele é legítimo, mas a coragem para enfrentá-lo também é genuína, e muito maior do que ele.

P: Que tática você adotou na primeira aula? Como botou a bola no chão?

R: No final da tarde de domingo encaminhei um vídeo meu ao grupo, contextualizando um pouco o momento e, também, nossa escolha por nos reinventarmos e reinventarmos nosso espaço de encontro. Meu afeto convocava o grupo a se juntar a nós nessa aventura cotidiana de enfrentar nossos fantasmas e dificuldades reais para darmos seguimento às nossas vidas, em um trabalho de construção coletiva de novas possibilidades.

P: Qual foi a reação da turma?

R: O primeiro encontro foi incrível, rico de vida, alegria, solidariedade, esperança, trazendo novas possibilidades de ser, de estar, de se relacionar e de seguir adiante. Algumas alunas registraram seu sentimento sobre essa estreia:

“Boa noite, gente! Estamos juntos e vamos pular essa fogueira. E se vierem outras, pularemos também!”

“Um momento novo. De desafios. Com o grupo e professora bem conectados. Esperançosos.”

“A aula de hoje serviu pra me mostrar que podemos seguir em frente, buscando sempre aprimorar nossos conhecimentos e nossa forma de reinventar as descobertas para não deixar a peteca cair.”

P: Qual sua avaliação sobre as aulas seguintes?

R: A segunda aula foi muito mais interessante e menos confusa que a primeira. Percebi uma grande interação do grupo e, pelo menos no momento da chamada e da avaliação houve a participação de TODOS. Fiquei bem satisfeita ao perceber que já não éramos os mesmos da semana anterior e que na aula seguinte já não seríamos os mesmos novamente. O formato das aulas foi se modificando, tanto no planejamento quanto pelo inesperado que acontece na interação do grupo em cada encontro. 

P: Que mudanças você destaca nesse processo?

R: Nas aulas seguintes utilizei novas ferramentas, como apresentação de conteúdos em vídeos curtos e leitura de textos durante os encontros, algo desafiador no ambiente virtual. Criamos um quase ritual, que começava com um “boa noite” seguido de um vídeo no qual eu apresentava um panorama geral do nosso encontro, todas as atividades, mas ainda sem detalhá-las. Sempre soltava esse vídeo antes das 19h. Assim, quem ia chegando já podia ir assistindo e se conectando com a sala de aula.

P: Qual foi o momento mais difícil?

R: Foi quando constatei que apenas nove alunas haviam encaminhado a tarefa da última aula. Isso não havia acontecido antes. Sinal amarelo! Por que a maioria não tinha conseguido entregar? Fiquei muito na dúvida sobre a conveniência de abrir espaço para cada um se manifestar. Mas decidi fazer isso, e fiz através de uma provocação: gravei um áudio sobre tudo o que havia sido trabalhado e formulei a seguinte pergunta: “Vocês conseguem se dar conta do que foram capazes de fazer até aqui?”

Daí fomos para a avaliação, e foi muito bonito ver cada um escrevendo sobre aquilo que já conquistou, sobre a dinâmica que nos permitiu estar tão juntos afetivamente, mesmo distantes geograficamente e, também, sobre desafios.

P: Que desafios foram apontados pela turma?

R: Desafios foram muitos, dos mais variados. Mas o que me chama a atenção é que todos falaram do desejo pelo amanhã, mostrando que é esse o desejo que nos move, tornando o hoje um pouco menos pesado e muito mais esperançoso.

P: Qual seu balanço desse período?

R: Tenho a sensação de que o tempo voou. É muito bom constatar o quanto conseguimos superar para estarmos juntos à noite para mais uma aula. Conseguimos enfrentar nossos medos e nos surpreendemos com a nossa coragem e capacidade de superação. A cada dia que passava, tinha mais convicção do quanto era importante ousar e apostar, no que eu era capaz de propor, no que o grupo era capaz de responder e, principalmente, naquilo que éramos capazes de fazer juntos. Propus à turma que cada um grave um vídeo com o registro dessa experiência, como um presente ao grupo, uma forma de reencontro.


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